quinta-feira, 24 de julho de 2014

Capítulo 2 - vagas lembranças

Quando voltamos pro DF minha mãe conseguiu um emprego de costureira particular. Nessa época legião urbana fazia sucesso com a música faroeste caboclo. Minha mãe cansou de escutar os filhos da patroa dela ensaiando essa música, pois eles tocavam violão e cantavam.
Uma amiga que é praticamente da família ficava cuidando de mim enquanto minha mãe trabalhava. Ela é Veva, eu a considero como tia, sempre muito queria por mim.
Eu não sei bem a ordem dos fatos. Mas teve um tempo que minha irmã ficou no Ceará com minha avó, pois ela gostava muito de lá. E minha mãe quis fazer esse gosto dela. Minha mãe se arrependeu, ela sentiu falta de minha irmã.  Ela conta que chegava a escutar a voz dela chamando mamãe.
Fomos pro Ceará novamente. Agora pra buscar minha irmã. Eu tenho vagas lembranças dessa viagem. É uma lembrança como se fosse de um sonho. Eu me lembro do compartimento de bagagens aberto para retirar as malas de quem tava desembarcando. Hoje eu entendo que era isso que tava acontecendo. Na minha cabeça de criança de 1 ano tinha outra impressão. Pra mim parecia que tinha gente dormindo ali naquele compartimento. Eu não entendia nem que a gente estava viajando.
Eu me lembro de quando estávamos la no Ceará. Essa é uma lembrança tão turva que está quase se apagando. Consigo me lembrar de minha mãe falando que íamos buscar minha irmã. Eu nem me lembrava mais que eu tinha irmã. Era como se minha irmã tivesse nascido naquele momento.
Foi nessa época que fomos no Horto, um dos pontos turísticos mais visitados do Ceará. É lá onde se encontra a estátua do padre Cícero. Pra mim foi a mesma coisa de não ter ido, pois eu não me lembro de nada.
Então voltamos pra Brasília. Minha mãe diz que eu demorei um pouco pra começar a falar. Também consigo me lembrar disso. São apenas flashes de memória, mas me lembro que tudo que eu dizia era mamãe. Eu não falava mais nada. Pra mim aquilo já era um assunto, eu chamar mamãe e escutá-la responder.
Pelo menos em uma coisa eu era mais esperto que meus irmãos. Eu sabia fugir. Disso eu não me lembro, mas minha mãe conta a solução que ela tinha para limpar a casa sem que a gente ficasse brincando no chão. A idéia era deixar a gente sentado na cadeira com uma grande fralda pra na cadeia em volta de nossa cintura.
Meus irmãos ficavam lá quietinhos. Mas eu não, eu dava um jeito de fugir. Eu escorregava por baixo da fralda e ia pro chão. Certo dia eu fiz cocô na banheira e comecei a brincar com o cocô. Meus irmãos dizem que eu comi cocô, mas minha mãe não confirma história. Só sei que não me lembro nada disso.
Minha mãe não só costurava fora, ela tbm costurava em casa. As vezes ela me deixa brincando na banheira do lado dela,  enquanto costurava.
Outra memória que tenho de mim mesmo foi um dia que eu estava em mais uma de minhas crises de bronquite e peguei no sono no sofá, minha mãe me pegou  no braço pra me dar o xarope. Como ela era costureira sempre deixava uma agulha enfiada na blusa. No que ela me encostou nela Quando me pegava no colo, a agulha esperou minha barriga. A reação foi imediata, eu chorei na hora.

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